As autoridades do Estado Novo procuraram controlar os vários aspetos da vida coletiva e conformar as mentalidades ao regime vigente. Todas as instituições do regime procuraram glorificar a ditadura e a manutenção da ordem.
O Concelho de Estarreja foi, durante o período do Estado Novo (1933-1974), um território cujas populações, maioritariamente, estiveram – como, aliás, em tantos outros – integradas na ordem institucional vigente e cujos características foram imortalizadas na mítica oficial pelas especificidades regionais. A serenidade que Estarreja conheceu por largas décadas não impediu que os defensores dos ideais da liberdade procurassem, em diversos momentos, protagonizar ações para desequilibrar as forças em presença.
Os registos em arquivo permitem-nos conhecer diversos nomes que protagonizaram, em Estarreja, alguns dos eventos mais combativos de oposição ao regime. Isso não significa que o concelho tenha sido um alfobre de contestatários, mas a verdade é que, no que respeita à posição oficial do regime, essas movimentações resultaram numa resposta mais firme ao nível do controlo e da repressão. A Circular do Governo Civil é exemplo da necessidade de vigilância e indicia os receios que o regime tinha quanto a opiniões contrárias.
Dá conta de que “em muitos estabelecimentos comerciais, nomeadamente em casas de vinhos e similares, se realizam audições colectivas de “Rádio Moscovo” e de outras emissoras estrangeiras empenhadas em fomentar o descrédito de Portugal, atacando com particular acinte a nossa política ultramarina, através da divulgação de notícias falsas, deturpadas ou tendenciosas”.