Vivem-se tempos de instabilidade e de agitação um pouco por todo o país e Estarreja não ficará indiferente às transformações que se começam a operar em diversas esferas da sociedade. A partir de fins de 1974 e com maior ênfase durante o “verão quente” de 1975, além de notícias na imprensa local, também alguma da documentação existente no Arquivo Municipal permite que apreendamos a linguagem com o sabor próprio do momento revolucionário e testemunha até algumas das intervenções mais cáusticas, por vezes dirigidas aos protagonistas políticos de então. O jornal “O Concelho de Estarreja” dá-nos conta do clima de agitação e do facto de terem sido “tomadas de assalto as sedes do PCP, MDP/CDE, MES e FEC, partidos políticos instalados na zona central da vila.

Na operação tomaram parte numerosas pessoas que retiraram para o exterior todo o recheio que encontraram (material de propaganda e escasso mobiliário) lançando-lhe fogo em seguida”. O mesmo periódico alertava para as convulsões sentidas em todo o país e para o facto de, em Estarreja, haver a manifestação popular para destituir a Comissão Administrativa em funções. Sobre o panorama nacional remata: “Acentuam-se as perseguições. Aumentam as manifestações tendentes a afastar as comissões administrativas dos municípios. O povo convence-se que há bruxas!”.